Ansiedade e tensão do próprio Liverpool e a
muralha azul do Chelsea à frente de sua área foram intransponíveis para os Reds, que passam a não depender apenas de si para voltarem a ser campeões
depois de 24 anos
O Liverpool nunca foi campeão da Premier League. Não vence o
campeonato inglês há 24 anos. Sua arracanda na segunda metade da temporada fez
com que os fanáticos torcedores, que se orgulham em cantar que os Reds
“nunca caminharão sós”, criassem uma expectativa enorme. A ansiedade por um
título que parecia impossível de ser alcançado, no início da temporada. A três
rodadas do fim, em pleno Anfield Road, o Liverpool tinha o Chelsea pela frente.
Era o jogo do título. Simbolicamente, claro. Talvez até pela força psicológica
do ânimo reforçado por uma vitória que seria tão importante. Porém, diante da
muralha azul do Chelsea em frente à área e sob muita tensão e ansiedade, os Reds
fraquejaram. Os Blues jogavam por uma bola. Tiveram duas. E a equipe
de Mourinho saiu vencedora: 2 a 0.
“Depois de 10, 12, 24 anos sem ser campeão, acreditar no título passa a
ser como acreditar em Deus. Não há nenhuma comprovação científica que isso
possa acontecer”, a frase é de Nick Hornby autor do livro Febre de Bola.
A fila do Liverpool fez com que seus torcedores vissem o título inglês como uma
miragem, quase um mito, algo que apenas a fé faria acreditar. E este sentimento
se reflete no capitão da equipe, Steven Gerrard. Caminhando para o fim da
carreira, Gerrard declarou, no começo da temporada, que se contentava em voltar
a disputar a Liga dos Campeões. Nas últimas rodadas, com o clube na liderança
da Premier League e colecnionando grandes exibições, o que se via em
campo era um capitão emocionado com a perspectiva de ser campeão.
Contudo, a tensão e ansiedade da torcida e dos próprios jogadores iam
aumentando à medida que o fim do campeonato se aproximava. E, mais uma vez,
Gerrard volta ao centro das atenções. Quis o destino, em mais uma de suas finas
ironias, que fosse o capitão o grande vilão da tarde em Anfield Road. Zero a
zero prevalecia em campo, com o Chelsea se segurando na retranca. O meia tinha
a bola perfeitamente dominada, mas falhou. Um erro que, em situação de pressão
normal, um jogador do nível de Gerrard não cometeria. Mas cometeu. Demba Ba
agradeceu o presente e marcou o 1 a 0 para os Blues.
Na segunda etapa, os donos da casa, naturalmente, intensificaram a
pressão. Mas a equipe do Chelsea, taticamente muito bem armada por José Mourinho,
resistia às sequentes investidas ofensivas do Liverpool. Nos acréscimos, quando
os Reds já partiam no desespero, indo com tudo para o ataque, o castigo
final. Contra-ataque mortífero do Chelsea. A bola sobrou para o ex-Liverpool -
vaiado quando entrou em campo - ele levou com tranquilidade e tocou para o
brasileiro William, que só teve o trabalho de encostar para o fundo de um gol
completamente aberto.
Com a vitória de 2 a 0, o Chelsea não só arrefeceu o sonho do Liverpool, como volta à briga pelo título. Agora, dois pontos separam os Reds (80) dos Blues (78). Quem gostou do resultado foi o Manchester City. Os Citizens venceram o Crystal Palace, também por 2 a 0, chegaram a 77 pontos. Com um jogo a menos e um saldo de oito gols a mais que o Liverpool, a equipe de Manuel Pellegrini tem a faca e o queijo na mão para conquistar seu segundo campeonato em três anos.