Josep Guardiola
anunciou hoje que não renovará seu contrato com o Barcelona, encerrando seu
vínculo com o clube catalão ao final da temporada. Foram quatro anos à frente
do Barcelona, com a conquista de 13 títulos (ainda podendo chegar a 14).
A decisão de não
continuar no comando do Barcelona, segundo Guardiola, foi tomada em dezembro do
ano passado e motivada pela sua falta de energia para contagiar os jogadores.
Pep Guardiola é um dos
primeiros frutos de um projeto iniciado nos anos 1970, primeiro com Rinus
Michels (criador do “futebol total” e treinador do Barcelona de 1971 a 1975 e
1976 a 1978) e prosseguido por Johan Cruiff (que chegou ao Barcelona por
intermédio de Michels, em 1973, como jogador, onde ficou até 1978; retornou
como treinador em 1988).
Foi treinado por Cruijff,
na primeira metade dos anos 1990, que Guardiola fez parte do “dream team”
catalão que conquistou o tetracampeonato espanhol e sua primeira Liga dos
Campeões. Posteriormente, já sob o comando de Bobby Robson (que tinha José
Mourinho em sua equipe técnica), Guardiola se tornou capitão do time
azul/grená.
Formado nas categorias
de base do Barcelona, cria do projeto revolucionário dos gênios holandeses –
Michels e Cruijff – Guardiola, antes de se tornar treinador principal do clube
culé, assumiu o comando do time B, em maio de 2007, a fim de reformular as
categorias de base do clube, que passavam por um momento de instabilidade.
Em 2008/09, Guardiola
se tornou treinador do time principal do seu clube do coração. Chegou com a
missão de reformular o elenco e recolocar o clube no caminho das conquistas,
após uma temporada 2007/08 decepcionante, em que os catalães terminaram o
Campeonato Espanhol em terceiro, 18 pontos atrás do campeão Real Madrid.
Guardiola afastou jogadores
como Ronaldinho, Deco, Zambrotta, Edmilson e Giovani dos Santos; trouxe Daniel
Alves, Keita e Piqué (que estava no Manchester United, mas era formado em La
Masia, categorias de base do Barcelona). Além disso, promoveu jovens promessas
com quem trabalhara no time B, como Busquets, Pedro e Jeffren.
Além disso, o
treinador promoveu duas mudanças táticas importantíssimas: passou a priorizar a
posse de bola e a troca de passes, focando o trabalho nas qualidades técnicas e
na criatividade; e deu liberdade tática a Messi, permitindo que o argentino se
transformasse, definitivamente, no gênio que todos conhecem atualmente.
É claro que não se
pode deixar de mencionar que Guardiola teve a oportunidade de trabalhar com a
melhor geração não só do Barcelona, como de todo o futebol espanhol, com
jogadores como, principalmente, Messi, Xavi e Iniesta. Mas é inegável o seu papel
fundamental na criação da máquina de títulos em que se transformou o Barcelona.
Em quatro anos sob seu
comando, Guardiola levou o Barcelona à conquista de 13 títulos em 18
disputados, podendo chegar a 14 títulos em 19, caso vença a final da Copa do
Rei, frente ao Athletic Bilbao.
Mais do que os
títulos, Guardiola ficará marcado para sempre na história do futebol por ter
sido o treinador de um time que praticava o mais próximo daquilo que muitos
gostam de chamar “futebol arte”: futebol de altíssima categoria, posse e toque
de bola, habilidade, técnica e criatividade – um rolo compressor que encantou o
mundo (e atemorizava todos os seus adversários).
Independentemente do
que acontecer no futuro, Guardiola (o melhor treinador da história do
Barcelona, de acordo com o presidente do clube) já terá seu nome reservado na
história do esporte mais popular do planeta Terra.
Tito Vilanova, antigo adjunto, assume o posto
Para o lugar de
Guardiola, o Barcelona escolheu o seu adjunto nos últimos quatro anos, Tito
Vilanova. A escolha se alicerça no argumento da continuidade do trabalho, o
desejo de manter a filosofia de trabalho vencedora, sem mudanças radicais.
Na teoria, é algo
bastante interessante. Vilanova trabalhou diretamente com Guardiola nesses
quatro anos, ambos possuem filosofias de trabalhos semelhantes e o novo
treinador assume o cargo com a função de não mudar muito o que tem sido feito,
talvez apenas passar a tal energia e motivação aos jogadores (que Guardiola
afirmou lhe faltar neste momento).
Entretanto, é preciso
lembrar que a prática é bem diferente da teoria (e do discurso). Vilanova
precisará mostrar, com seu trabalho, que tem capacidade e competência para ser
treinador principal e, acima de tudo, de um clube da dimensão
(consequentemente, com as expectativas e exigências) do Barcelona.
Não custa lembrar o
exemplo recente de Vitor Pereira, no FC Porto. O antigo adjunto de André
Villas-Boas foi o escolhido por Pinto da Costa por representar a “continuidade”
do trabalho bem sucedido (Villas-Boas comandou o Porto na conquista de quatro
títulos em um ano, incluindo o Campeonato Português invicto e a Liga Europa com
exibições como 5x1 na semifinal frente ao Villareal).
Na prática,
entretanto, Vitor Pereira mostrou que pode ser um adjunto de alto nível
(Villas-Boas tentou levá-lo para o Chelsea), mas que não tem capacidade para
ser treinador ao nível que exige o Porto. Deverá conquistar o Português, mas a
imagem negativa deixada ao longo da temporada é a que ficará na memória dos
portistas.
Em suma, Vilanova terá
pela frente um enorme desafio: mostrar-se à altura das exigências e
expectativas de um clube como o Barcelona e a responsabilidade de dar
continuidade ao trabalho de Guardiola, a melhor cria de um projeto
revolucionário, iniciado nos anos 1970 por dois gênios do futebol (Michels e
Cruijff).
Boa sorte ao Vilanova,
ele vai precisar!
Títulos conquistados por Guardiola
2 Ligas dos Campeões
2 Mundiais de Clubes
3 Campeonatos
Espanhóis
2 Supercopas da Europa
1 Copa do Rei
3 Supercopas da
Espanha
*Ainda pode ganhar
mais uma Copa do Rei (final frente ao Athletic Bilbao, dia 25 de maio).
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