Sabemos que o futebol
é um fato social e que, no Brasil, possui considerável importância social,
cultural e econômica.
Sabemos, também, como
bem nos ensinou Bourdieu, que a profissionalização do futebol só se tornou
possível a partir do momento em que os bens simbólicos – “produtos desportivos”
– passaram a ser produzidos visando a um mercado consumidor, ou seja, o
universo das práticas e dos consumos esportivos (BOURDIEU, 2003:182).
Junto às lições de Bourdieu, compreendemos,
também, sob a ótica da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, que o futebol,
dentro da lógica de mercado, entra no circuito de produção, distribuição e
comercialização da indústria cultural, torna-se, portanto, mais uma mercadoria.
O futebol, como maior
fenômeno esportivo do planeta, é um grande produto dentro da indústria cultural
que explora o mercado desportivo. Em 2009, segundo estudo da empresa de
consultoria AT Kearney, o futebol movimentou US$29 bilhões - entre
recursos gerados com gastos em estádios, direitos televisivos e marketing.
O mercado existe e ele
tem mesmo que ser explorado. Portanto, não pretendemos aqui criticar as vendas
dos chamados “naming rights”, como no caso do Campeonato Pernambucano Coca-Cola
2012. A Federação Pernambucana de Futebol, dentro desta lógica de mercado,
aproveitou o valor de seu principal torneio e gerou uma renda própria a partir
da venda do nome da competição.
Reitero, dentro do
cenário do futebol globalizado e inserido na indústria cultura, essa prática
não deve ser reprovada, pelo contrário, há que se enaltecer a capacidade de
atrair investidores (compradores do produto Campeonato Pernambucano) ao futebol
local por parte da federação.
Entretanto, já é ultrapassar
os limites da mercantilização, quero dizer, é ir além do bom senso quando a
Federação Pernambucana de Futebol, ao homenagear uma rede de televisão aceite
que o troféu de campeão pernambucano (símbolo máximo da glória desportiva)
seja, na realidade, uma placa comemorativa e publicitária da rede de televisão
homenageada.
O símbolo, como imagem
que é, representa algo e comunica uma mensagem a quem o vê. Os troféus, nas
premiações esportivas, representam, simbolicamente, a vitória, a honra ao
mérito desportivo.
O troféu do Campeonato
Pernambucano (Coca-Cola) 2012 poderia, sim, homenagear a Rede Globo Nordeste
pelos seus 40 anos, porém, ao aceitar uma placa que é pura propaganda da
referida rede de televisão e que não contém qualquer representação,
simbólica, do mérito da vitória desportiva, a Federação Pernambucana cometeu um
erro tremendo, maculando o brilho do êxito alcançado pelo clube que vier a se
sagrar campeão pernambucano de 2012 (Sport, Santa Cruz, Salgueiro ou Náutico).
Para finalizar e que
deixar claro meu posicionamento: não sou contrário às vendas dos “naming rights”
nem a que se prestem homenagens a redes de televisão. O que acho inaceitável é
que o símbolo máximo do mérito desportivo do Campeonato Pernambucano, o troféu de
campeão pernambucano, seja uma mera placa alusiva à rede de televisão
homenageada.
Recomendação de leitura:
“Questões de
sociologia”, Pierre Bourdieu.
“Soccernomics – por que
a Inglaterra perde, a Alemanha e o Brasil ganham, e os Estados Unidos, o Japão,
a Austrália, a Turquia – e até mesmo o Iraque – podem se tornar os reis do
esporte mais popular do mundo”, Simon Kuper & Stefan Szymanski.
“Introdução à análise
da teoria da imagem”, Martine Joly.
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