domingo, 20 de maio de 2012

As festas das Copas



As Copas nacionais são, de modo geral, competições em que clubes de menor expressão podem sonhar em conquistar um título nacional. Por conta de seu formato de disputa (em sistema eliminatório), há sempre a possibilidade de um time mais fraco poder eliminar o time mais forte e, assim, traçar uma trajetória vitoriosa e alcançar a glória de uma conquista histórica.

Em 2000, por exemplo, o Calais, um clube amador da França, chegou à final da Copa daquele país. Contando com jogadores que dividiam os treinos com suas profissões (professores, estivadores, secretários/empregados de escritórios, etc.), o Calais viu o sonho da Copa cair diante do Nantes, que é o terceiro maior campeão francês. Embora não tenha sido campeão, o simples fato de o Calais ter chegado à decisão, demonstra como as Copas podem ser uma festa para os pequenos.

O Chelsea, antes de ser adquirido pelo bilionário russo, só tinha um campeonato inglês (ganho em 1955), mas tinha três Copas da Inglaterra (duas delas ganhas em 1997 e 2000). No Brasil, já vimos Criciúma, Juventude, Santo André e Paulista serem campeões na Copa do Brasil.

Pois bem esta introdução toda foi para falar dos títulos do Napoli e da Académica de Coimbra, que foram campeões da Coppa da Italia e da Taça de Portugal, respectivamente. O Napoli pôde celebrar seu primeiro título desde 1990. A Académica voltou a ganhar um título de primeira grandeza em 73 anos.

Napoli de volta às glórias

Até os anos 1980, o Napoli não passava de um clube mediano do sul da Itália. Até então, só havia conquistado duas Copas da Itália. Mas tudo mudou após a chegada de um tal Diego Armando Maradona.

Com o craque argentino envergando a mítica camisa 10, o Napoli viveu seus maiores momentos de glórias. Foi campeão italiano duas vezes (1987 e 1990), ganhou uma Coppa Italia (1987), uma Copa UEFA (1989) e uma Supercopa italiana (1990).

Após a saída de Maradona, o clube passou por muitos problemas e perdeu competitividade. Em 1997 disputou a final da Copa, mas foi derrotado pelo Vicenza. O clube chegou a falir e a deixar de existir em 2004. Mas os esforços de Aurelio de Lorentiis fizeram com que o time ressurgisse e recomeçasse tudo de baixo, desde a Serie C1 até voltar à elite do futebol italiano.

Nos últimos anos, o Napoli voltou a brigar pelas primeiras colocações na Serie A italiana. Em 2010/11 ficou em terceiro lugar no Campeonato, posição que permitiu aos napolitanos que voltassem a disputar a Liga dos Campeões (em que chegaram às oitavas-de-final e foram eliminados pelo campeão Chelsea).

Curiosamente, o primeiro título conquistado em 22 anos surgiu diante do último clube que havia sido derrotado pelos napolitanos em uma final, a Juventus. Antes da Coppa Italia 2012, o Napoli havia ganho o Campeonato Italiano de 1989/90 e a Supercopa Italiana de 1990. No dia 1 de setembro de 1990, o eterno ídolo Maradona ergueu o troféu de campeão da Supercopa após uma goleada histórica sobre a Juventus: 5x1 no Estádio San Paolo. Hoje, 20 de maio de 2012, Paolo Cannavaro levantou a primeira taça napolitana em 22 anos, após uma vitória sobre a mesma Juventus, 2x0.

O título de hoje, foi o coroar do ressurgimento do Napoli.

Académica supreende em Portugal

Primeiro clube campeão da Taça de Portugal, na longínqua temporada 1938/39, quando bateu o Benfica por 4x3 na final, em Lisboa, no Campo das Salésias (primeiro campo relvado de Portugal, que pertencia ao Belenenses), a Académica de Coimbra hoje celebrou, 73 anos depois, mais uma conquista no segundo principal torneio português.

Todos esperavam pela 16ª conquista do Sporting na competição. Sporting que terminou a época embalado, depois que Sá Pinto assumiu o comando técnico do time. Mas foi a Académica do treinador Pedro Emanuel, e que tinha brigado até a última rodada contra o rebaixamento no Campeonato Português, que se deu melhor e celebrou o título.

Com o gol solitário de Marinho, aos 4 minutos de jogo, a Académica segurou o 1x0 sobre o Sporting e, ao final, ergueu a Taça de Portugal pela segunda vez em sua história. O primeiro campeão, finalmente, voltou a levantar este troféu.

A conquista da Académica demonstra que, se no Campeonato Português os clubes menores não têm chance (em toda a história, somente duas vezes o campeão não foi um dos grandes – Belenenses em 1946 e Boavista em 2001), na Taça de Portugal há maior possibilidade de celebrarem. Foram 17 as vezes que um time “não grande” conquistou o segundo maior torneio português – Boavista 5; Vitória de Setúbal 3; Belenenses 3; Académica 2; Sporting Braga, Beira-Mar, Leixões e Estrela da Amadora 1.

Ao contrário do título do Napoli, a Taça de Portugal da Briosa não reflete um ressurgimento, mas representa um feito histórico por parte de um tradicional clube do futebol português.

Parabéns ao Napoli e à Académica. E viva as festas das Copas!


PS. Na imagem que abre o texto veem-se duas fotos: uma do Napoli nos tempos áureos de Maradona e a outra é da Académica de 1939, campeã da primeira Taça de Portugal.

2 comentários:

  1. Minha admiração pelo Napoli começou através do livro "Futebol, ao sol e a sombra" do Eduardo Galeano, que o Sr. certamente conhece.

    Assim como nós nordestinos não somos considerados gente por algumas pessoas do sudeste (creio que a maioria não pense assim, mas os que detém o poder sim), as pessoas do sul da Itália são bastante discriminadas. Como notório torcedor do Santa Cruz não havia como não me identificar MUITO com o Napoli, inclusive pela perseverança, pelo renascimento.
    Parabéns ao Napoli e ao Sr. pela postagem (enquanto ouvia o jogo do Santinha na rádio até ouvi menção a este jogo entre os italianos, mas estava desinformado e pensei tratar-se ainda na Liga, vencida pela - eca - Juventus).

    (Redigido ao som de Raulzito =)

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    1. O livro de Eduardo Galeano é um dos livros mais interessantes sobre futebol.

      E a vitória do Napoli, time do pobre sul italiano, não poderia ser mais simbólico ao ser conquistado em cima da Juventus, de Turim, e tudo o que este clube representa.

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