quarta-feira, 18 de abril de 2012

Troféu do Campeonato Pernambucano 2012



Sabemos que o futebol é um fato social e que, no Brasil, possui considerável importância social, cultural e econômica.

Sabemos, também, como bem nos ensinou Bourdieu, que a profissionalização do futebol só se tornou possível a partir do momento em que os bens simbólicos – “produtos desportivos” – passaram a ser produzidos visando a um mercado consumidor, ou seja, o universo das práticas e dos consumos esportivos (BOURDIEU, 2003:182).

Junto às lições de Bourdieu, compreendemos, também, sob a ótica da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, que o futebol, dentro da lógica de mercado, entra no circuito de produção, distribuição e comercialização da indústria cultural, torna-se, portanto, mais uma mercadoria.

O futebol, como maior fenômeno esportivo do planeta, é um grande produto dentro da indústria cultural que explora o mercado desportivo. Em 2009, segundo estudo da empresa de consultoria AT Kearney, o futebol movimentou US$29 bilhões - entre recursos gerados com gastos em estádios, direitos televisivos e marketing.

O mercado existe e ele tem mesmo que ser explorado. Portanto, não pretendemos aqui criticar as vendas dos chamados “naming rights”, como no caso do Campeonato Pernambucano Coca-Cola 2012. A Federação Pernambucana de Futebol, dentro desta lógica de mercado, aproveitou o valor de seu principal torneio e gerou uma renda própria a partir da venda do nome da competição.

Reitero, dentro do cenário do futebol globalizado e inserido na indústria cultura, essa prática não deve ser reprovada, pelo contrário, há que se enaltecer a capacidade de atrair investidores (compradores do produto Campeonato Pernambucano) ao futebol local por parte da federação.

Entretanto, já é ultrapassar os limites da mercantilização, quero dizer, é ir além do bom senso quando a Federação Pernambucana de Futebol, ao homenagear uma rede de televisão aceite que o troféu de campeão pernambucano (símbolo máximo da glória desportiva) seja, na realidade, uma placa comemorativa e publicitária da rede de televisão homenageada.

O símbolo, como imagem que é, representa algo e comunica uma mensagem a quem o vê. Os troféus, nas premiações esportivas, representam, simbolicamente, a vitória, a honra ao mérito desportivo.

O troféu do Campeonato Pernambucano (Coca-Cola) 2012 poderia, sim, homenagear a Rede Globo Nordeste pelos seus 40 anos, porém, ao aceitar uma placa que é pura propaganda da referida rede de televisão e que não contém qualquer representação, simbólica, do mérito da vitória desportiva, a Federação Pernambucana cometeu um erro tremendo, maculando o brilho do êxito alcançado pelo clube que vier a se sagrar campeão pernambucano de 2012 (Sport, Santa Cruz, Salgueiro ou Náutico).

Para finalizar e que deixar claro meu posicionamento: não sou contrário às vendas dos “naming rights” nem a que se prestem homenagens a redes de televisão. O que acho inaceitável é que o símbolo máximo do mérito desportivo do Campeonato Pernambucano, o troféu de campeão pernambucano, seja uma mera placa alusiva à rede de televisão homenageada.

Recomendação de leitura:

“Questões de sociologia”, Pierre Bourdieu.
“Soccernomics – por que a Inglaterra perde, a Alemanha e o Brasil ganham, e os Estados Unidos, o Japão, a Austrália, a Turquia – e até mesmo o Iraque – podem se tornar os reis do esporte mais popular do mundo”, Simon Kuper & Stefan Szymanski.
“Introdução à análise da teoria da imagem”, Martine Joly.

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